8.12.14




Antes de me instalar frente à secretária abri a janela orientada a poente, na esperança de que a luz cortante do final de tarde afilasse o contorno dos objectos e facultasse o contraste essencial entre a poeira errante e a nuvem disforme dos meus pensamentos soltos. Com um movimento rápido afastei tudo o que cobria a superfície da mesa e sobre ela dispus três folhas brancas, perfeitamente limpas, lado a lado, conformando uma fina linha de distância entre si. Depois sentei-me, fitando-as.


E fiquei.


Quedei-me imóvel a mirá-las até a luz fraquejar, as cigarras cessarem o seu serrar fino e a brisa cálida ceder espaço ao exaltar da pele. Fechei a janela. Esperei mais um pouco. O branco da folhas esmoreceu e desistiu, a poeira solta pousou sobre elas, adormecendo, e até mesmo a nuvem amorfa de pensamentos se ausentou.
 
Fui embora, fechando a porta atrás de mim.

Sem comentários:

Enviar um comentário